Pesquisa indica que 39% das empresas norte-americanas utilizam Linux em suas aplicações. E no Brasil, como é a participação do pingüim no mercado corporativo?
Por Alexandre Carvalho
Em dezembro de 2002, uma pesquisa do Goldman Sachs Group realizada nos Estados Unidos revelou que 39% das empresas daquele país fazem uso de Linux para alguma aplicação em suas atividades, principalmente em ambientes mainframe, data center, banco de dados e servidores. E no Brasil, como anda a utilização do Linux no mercado corporativo?
Uma pesquisa realizada em 2002 pela Fundação Getúlio Vargas indica que o Windows é líder disparado no mercado de desktops no Brasil, sendo usado por 97% das empresas consultadas. Em relação aos servidores, esse número cai para 57%, enquanto que o Linux fica com 8%.
O que faz a empresa migrar?
A velha discussão Windows x Linux sempre gera polêmica, pois os dois têm fiéis defensores de suas vantagens e aplicações no mercado. Para o analista de suporte da Mastery Consulting - especializada em infra-estrutura para ambientes de missão crítica -, Rodivaldo Marcelo, a escolha entre Linux e Windows depende das necessidades de cada empresa.
- Não defendo nem um nem outro. Tudo depende de como a empresa usa o sistema para que ele acabe com problemas e traga soluções. Às vezes, a escolha pode estar relacionada a uma questão de gosto, mesmo reconhecendo as qualidades de um outro - opina.
De acordo com o estudo do Goldman Sachs, as empresas americanas que adotaram o Linux levaram diversos fatores em consideração. Entre eles estão redução de custos, estabilidade e segurança do sistema. Neste ponto, os motivos que levam empresas brasileiras a optarem por Linux são muito semelhantes, pelo menos na opinião de Rodivaldo Marcelo.
- Um dos principais motivos é redução de custos, que é absurda em relação ao que se gasta com a utilização do Windows. A controvérsia surge quando se fala em TCO (Total Cost of Ownership/Custo Total de Propriedade), pois há quem diga que o uso do Linux sai caro em longo prazo, devido aos gastos com suporte e treinamento de pessoal – analisa.
Reforço de peso
A utilização do Linux no mercado corporativo promete ganhar impulso com a criação do UnitedLinux, uma iniciativa de algumas das principais distribuições do pingüim em todo o mundo com o objetivo principal de aumentar e fortalecer a penetração do Linux no mercado corporativo.
Com a iniciativa, Conectiva, Caldera, SuSE e Turbolinux desenvolveram e lançaram, juntas, uma versão padronizada do Linux, exclusivamente voltada para o mercado corporativo. E o UnitedLinux conta com outras importantes adesões, como IBM e AMD, que uniram-se à iniciativa como parceiros de tecnologia.
Além disso, o Linux há tempos vem conquistando adeptos no setor público, como o governo do Rio Grande do Sul, que tem várias iniciativas relacionadas ao uso de software livre. As escolas do estado, por exemplo, foram informatizadas com a utilização de Linux, o que significou uma economia de 50%, segundo o site oficial do governo do Rio Grande do Sul.
Para Rodrigo Stulzer, da Conectiva, o Linux representa uma ameaça para o Windows há muito tempo. Ele acredita, inclusive, que a Microsoft lançou a política mundial de Trusworthy Computing (Computação Confiável) por sentir que o Linux estava ganhando espaço e força.
O Trustworthy Computing consiste em implementar um padrão de segurança máxima em toda a linha de produtos Microsoft, começando pelo Windows, que é a base de tudo. Segundo Stulzer, esta novidade tem o objetivo de tornar os produtos Microsoft mais confiáveis, estáveis e seguros, características que o mercado atribui ao Linux.
- Essa iniciativa surgiu por causa do Linux, já que muitos dos programas da Microsoft, por terem código fechado, não possuem a agilidade necessária para correções. É evidente que se a intenção deles é melhorar a qualidade de seus produtos, isso vai acontecer, mas não vão conseguir atingir o nível máximo de excelência que um sistema com código aberto possui – ataca Rodrigo Stulzer, da Conectiva.
O gerente de produtos da Microsoft rebate a afirmação de Stulzer e diz que a Microsoft verificou que a questão do acesso ao código-fonte poderia ser feita implementada também no Windows.
- A Microsoft observou essa característica do Linux e sentiu que poderia fazer o mesmo com o Windows. O governo brasileiro, inclusive, já tem acesso ao código-fonte de nosso sistema e com isso pode identificar um problema e corrigi-lo, através do shared source program, que também está disponível à iniciativa privada em alguns casos – garante Eduardo Campos.
Campos argumenta que a Microsoft não considera o open source como ameaça apenas para o Windows, mas para todo um modelo de desenvolvimento e venda da indústria do software.
- A ameaça, no caso do open source, não ocorre focada somente no Windows e sim em relação a todo o modelo de software comercial, destruindo toda a cadeia de valor no mercado de tecnologia. A indústria de software hoje movimenta aproximadamente US$ 3 bilhões e recolhe US$ 600 mil só em impostos – argumenta Eduardo Campos.
Estranho no ninho
Stulzer, da Conectiva, explica que a vantagem de um sistema ter seu código-fonte aberto é que os problemas e as falhas aparecem com maior rapidez, devido ao número de usuários e desenvolvedores que têm acesso ao código.
- O Linux é como um livro que acaba de ser escrito e passa pela revisão de várias pessoas ao mesmo tempo, tornando o processo muito mais eficaz – compara o diretor de Produtos e Soluções da Conectiva.
Preconceito
Boa parte dos esforços para que o Linux conquiste mais espaço no mercado corporativo é voltada para construir uma nova imagem para o pingüim, já que ainda há um certo preconceito em relação ao sistema.
- Pela maneira como algumas empresas vêem o Linux, muitas pessoas ficam receosas em relação ao sistema, principalmente no que se refere ao suporte e à própria segurança. Pensando nisso é que surgiram iniciativas como a do UnitedLinux – ressalta Rodivaldo Marcelo, da Mastering Consulting.
Para Rodrigo Stulzer, da Conectiva, a desconfiança que muitas empresas têm em relação ao Linux é natural, mas ele aposta que isso mudará à medida que a utilização do pingüim no mercado corporativo aumentar.
- Acho que tudo é uma questão de tempo. Quando surge algo novo, é natural que as pessoas fiquem um pouco apreensivas ou desconfiem de um novo sistema. É como uma criança assustada em seu primeiro dia na escola. Mas à medida que essa convivência for aumentando, o que já tem acontecido, esse receio diminuirá – observa.
Rodivaldo Marcelo, acredita que o crescimento do Linux do mercado, com a conseqüente migração das empresas de Windows para Linux vai acontecer de forma cuidadosa, assim como se deu a mudança de Novell para Windows NT.
- A migração que algumas empresas têm feito para o Linux está sendo gradativa, exatamente como aconteceu com o Windows NT em relação à Novell, que antes praticamente dominava o mercado de redes. Daqui a alguns anos, quando o Windows e o Linux estiverem no mesmo patamar, pode ser que apareça outra novidade, repetindo a mesma situação que estamos vendo agora - finaliza.
Por Alexandre Carvalho
Em dezembro de 2002, uma pesquisa do Goldman Sachs Group realizada nos Estados Unidos revelou que 39% das empresas daquele país fazem uso de Linux para alguma aplicação em suas atividades, principalmente em ambientes mainframe, data center, banco de dados e servidores. E no Brasil, como anda a utilização do Linux no mercado corporativo?
Uma pesquisa realizada em 2002 pela Fundação Getúlio Vargas indica que o Windows é líder disparado no mercado de desktops no Brasil, sendo usado por 97% das empresas consultadas. Em relação aos servidores, esse número cai para 57%, enquanto que o Linux fica com 8%.
O que faz a empresa migrar?
A velha discussão Windows x Linux sempre gera polêmica, pois os dois têm fiéis defensores de suas vantagens e aplicações no mercado. Para o analista de suporte da Mastery Consulting - especializada em infra-estrutura para ambientes de missão crítica -, Rodivaldo Marcelo, a escolha entre Linux e Windows depende das necessidades de cada empresa.
- Não defendo nem um nem outro. Tudo depende de como a empresa usa o sistema para que ele acabe com problemas e traga soluções. Às vezes, a escolha pode estar relacionada a uma questão de gosto, mesmo reconhecendo as qualidades de um outro - opina.
De acordo com o estudo do Goldman Sachs, as empresas americanas que adotaram o Linux levaram diversos fatores em consideração. Entre eles estão redução de custos, estabilidade e segurança do sistema. Neste ponto, os motivos que levam empresas brasileiras a optarem por Linux são muito semelhantes, pelo menos na opinião de Rodivaldo Marcelo.
- Um dos principais motivos é redução de custos, que é absurda em relação ao que se gasta com a utilização do Windows. A controvérsia surge quando se fala em TCO (Total Cost of Ownership/Custo Total de Propriedade), pois há quem diga que o uso do Linux sai caro em longo prazo, devido aos gastos com suporte e treinamento de pessoal – analisa.
Reforço de peso
A utilização do Linux no mercado corporativo promete ganhar impulso com a criação do UnitedLinux, uma iniciativa de algumas das principais distribuições do pingüim em todo o mundo com o objetivo principal de aumentar e fortalecer a penetração do Linux no mercado corporativo.
Com a iniciativa, Conectiva, Caldera, SuSE e Turbolinux desenvolveram e lançaram, juntas, uma versão padronizada do Linux, exclusivamente voltada para o mercado corporativo. E o UnitedLinux conta com outras importantes adesões, como IBM e AMD, que uniram-se à iniciativa como parceiros de tecnologia.
Além disso, o Linux há tempos vem conquistando adeptos no setor público, como o governo do Rio Grande do Sul, que tem várias iniciativas relacionadas ao uso de software livre. As escolas do estado, por exemplo, foram informatizadas com a utilização de Linux, o que significou uma economia de 50%, segundo o site oficial do governo do Rio Grande do Sul.
Para Rodrigo Stulzer, da Conectiva, o Linux representa uma ameaça para o Windows há muito tempo. Ele acredita, inclusive, que a Microsoft lançou a política mundial de Trusworthy Computing (Computação Confiável) por sentir que o Linux estava ganhando espaço e força.
O Trustworthy Computing consiste em implementar um padrão de segurança máxima em toda a linha de produtos Microsoft, começando pelo Windows, que é a base de tudo. Segundo Stulzer, esta novidade tem o objetivo de tornar os produtos Microsoft mais confiáveis, estáveis e seguros, características que o mercado atribui ao Linux.
- Essa iniciativa surgiu por causa do Linux, já que muitos dos programas da Microsoft, por terem código fechado, não possuem a agilidade necessária para correções. É evidente que se a intenção deles é melhorar a qualidade de seus produtos, isso vai acontecer, mas não vão conseguir atingir o nível máximo de excelência que um sistema com código aberto possui – ataca Rodrigo Stulzer, da Conectiva.
O gerente de produtos da Microsoft rebate a afirmação de Stulzer e diz que a Microsoft verificou que a questão do acesso ao código-fonte poderia ser feita implementada também no Windows.
- A Microsoft observou essa característica do Linux e sentiu que poderia fazer o mesmo com o Windows. O governo brasileiro, inclusive, já tem acesso ao código-fonte de nosso sistema e com isso pode identificar um problema e corrigi-lo, através do shared source program, que também está disponível à iniciativa privada em alguns casos – garante Eduardo Campos.
Campos argumenta que a Microsoft não considera o open source como ameaça apenas para o Windows, mas para todo um modelo de desenvolvimento e venda da indústria do software.
- A ameaça, no caso do open source, não ocorre focada somente no Windows e sim em relação a todo o modelo de software comercial, destruindo toda a cadeia de valor no mercado de tecnologia. A indústria de software hoje movimenta aproximadamente US$ 3 bilhões e recolhe US$ 600 mil só em impostos – argumenta Eduardo Campos.
Estranho no ninho
Stulzer, da Conectiva, explica que a vantagem de um sistema ter seu código-fonte aberto é que os problemas e as falhas aparecem com maior rapidez, devido ao número de usuários e desenvolvedores que têm acesso ao código.
- O Linux é como um livro que acaba de ser escrito e passa pela revisão de várias pessoas ao mesmo tempo, tornando o processo muito mais eficaz – compara o diretor de Produtos e Soluções da Conectiva.
Preconceito
Boa parte dos esforços para que o Linux conquiste mais espaço no mercado corporativo é voltada para construir uma nova imagem para o pingüim, já que ainda há um certo preconceito em relação ao sistema.
- Pela maneira como algumas empresas vêem o Linux, muitas pessoas ficam receosas em relação ao sistema, principalmente no que se refere ao suporte e à própria segurança. Pensando nisso é que surgiram iniciativas como a do UnitedLinux – ressalta Rodivaldo Marcelo, da Mastering Consulting.
Para Rodrigo Stulzer, da Conectiva, a desconfiança que muitas empresas têm em relação ao Linux é natural, mas ele aposta que isso mudará à medida que a utilização do pingüim no mercado corporativo aumentar.
- Acho que tudo é uma questão de tempo. Quando surge algo novo, é natural que as pessoas fiquem um pouco apreensivas ou desconfiem de um novo sistema. É como uma criança assustada em seu primeiro dia na escola. Mas à medida que essa convivência for aumentando, o que já tem acontecido, esse receio diminuirá – observa.
Rodivaldo Marcelo, acredita que o crescimento do Linux do mercado, com a conseqüente migração das empresas de Windows para Linux vai acontecer de forma cuidadosa, assim como se deu a mudança de Novell para Windows NT.
- A migração que algumas empresas têm feito para o Linux está sendo gradativa, exatamente como aconteceu com o Windows NT em relação à Novell, que antes praticamente dominava o mercado de redes. Daqui a alguns anos, quando o Windows e o Linux estiverem no mesmo patamar, pode ser que apareça outra novidade, repetindo a mesma situação que estamos vendo agora - finaliza.
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