08 agosto, 2008

Cerimônia de abertura das Olimpíadas Beijing/2008

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Abertura das Olimpíadas em Beijing - Uma aula multidisciplinar


Nunca antes tantos se prepararam para ligar a TV com intenção de assistir a uma abertura de Olimpíada como se fez com essa. Talvez a maciça propaganda feita pela toda poderosa [Globo] tenha ajudado um pouco. Mas instigava bastante o suspense feito em torno do espetáculo preparado pelos chineses para abrir os jogos olímpicos sediados em Beijing. Esperava-se um espetáculo gigantesco, como o país, e assim foi. Mas o mais interessante foi a aula multidisciplinar que tanto os chineses, como público e convidados deram durante o evento.

Do lado dos anfitriões, a aula sobre história da China [República Popular da China] trouxe as glórias das Dinastias, as filosofias e as invenções, como a da cerâmica, da tipografia móvel, da bússola, e evidentemente a da pólvora e a do papel, consideradas as mais importantes, utilizando perfeitamente esses dois elementos durante toda a apresentação: o show pirotécnico teve presença marcante durante todo o evento, tanto dentro como fora do Ninho de Pássaro; e a maior parte do espetáculo se deu no centro do estádio sobre uma imensa “folha de papel”, onde foram projetadas imagens e se desenhou muitas aquarelas, também traço forte na cultura chinesa.

Desafiando as leis da Física, os chineses apresentaram performances de tirar o fôlego como no caso dos bailarinos que andaram pelo globo e nos vôos de homens e mulheres. O sincronismo perfeito teve destaque nas apresentações dos percussionistas e pelos movimentadores do ideograma chinês, que mais parecia ser um grande teclado de computador.

Passando de milênios antes de Cristo até os dias de hoje, o evento mostrou a grandiosidade da China histórica, cultural, multi-étnica, tecnológica e também populacional! Haja matemática pra contar tantos bailarinos, músicos... Com uma população oficial de 1.300.000.000 [extra-oficialmente, aproximadamente 1.700.000.000, se entrarem na conta os “segundos filhos” não registrados], imagine se fosse autorizado ter mais de um filho...

Poderia servir como uma aula quase perfeita de revisão para quem está trabalhando com esse tema em sala de aula. O quase perfeita deve-se ao fato dos chineses terem ocultado na apresentação momentos que são considerados vergonhosos por eles, como por exemplo, a Revolução Cultural em meados do século XX, o governo de Mao Tsé Tung e as invasões japonesas à China no final do século XIX e no período da Segunda Guerra Mundial.

Mas claro que ninguém quer mostrar o lado feio, como o aumento das desigualdades sociais e da poluição trazida pelo crescimento econômico, que coloca 16 cidades chinesas na lista das 20 cidades mais poluídas do mundo. Aliás, em Beijing, o clima tava quente na noite de abertura dos jogos, aproximadamente 35° graus, ajudado pelo tampão de gases poluentes que cobre a cidade, quase cozinhando atletas, chefes de Estado, artistas e público dentro do Ninho... Iam virar comida de passarinho. A aula sobre meio ambiente acabou ficando nas lembranças da integração homem/natureza no Tai Chi Chuan representado no palco.

Mas, sem dúvida, a aula de química ficou por conta do bodum que foi produzido no Ninho do Pássaro depois de tanto calor e suor dos participantes da festa, o que poderia servir como uma nova arma química para o país. De repente, o Ninho é um laboratório experimental disfarçado.

Da parte dos chefes de Estado, aproximadamente 80, dentre eles Lula, Nicolas Sarkozy e o Sr. Bush, a lição foi econômica. Muitos estavam ali para demarcarem área ao redor das oportunidades de negócios com a potência emergente. No caso de Lula, além disso, havia a campanha “pró-Olimpíadas Rio/2016”, da qual é ferrenho cabo eleitoral. Na matéria geopolítica, mais um ponto para Lula, que já havia aparecido num famoso jornal chinês abraçado ao presidente Jintao e estava sentado ao seu lado, na frente. Os maus alunos, Bush e Sarkozy, sentaram no fundo...

Também não ficaram de fora lições sobre relações internacionais através das “alfinetadas” trazidas pelas vaias ou indiferença do público a chefes de Estado [leia-se Bush e Sarkozy] que criticaram a China em outras oportunidades devido aos seus conflitos com o Tibet e suas atitudes a respeito dos direitos humanos. Quem deu a “alfinetada” mais dolorida foi a delegação estadunidense, que trouxe como porta-bandeira um refugiado sudanês, clara referência ao apoio armamentista chinês ao governo do Sudão, que enfrenta conflitos internos, em troca de seus recursos naturais. Mas o público ainda assim aplaudiu bastante essa delegação e outras para as quais se esperava reação contrária, como a japonesa, por suas desavenças históricas e para Taiwan, considerada província rebelde, demonstrando assim o espírito desportivo que deve existir nessas ocasiões.

Algumas delegações mostraram como a geografia do planeta muda de uma Olimpíada para outra... Numa outra oportunidade com uma única delegação, nessa festa a Sérvia e o Montenegro que antes eram uma só, viraram duas, e os vários filhotes da ex-URSS que aparecem de vez em quando contribuíram para o aumento de delegações no evento.

Numa aula peculiar sobre língua, os chineses colocaram as delegações para adentrarem o Ninho do Pássaro numa ordem alfabética que para nós é de ponta cabeça - assim como a criança imagina quem mora do outro lado do mundo - com a Austrália e os "hermanos" argentinos [rsrssrs], sendo umas das últimas, por seus nomes terem outros significados na transliteração feita pelos anfitriões. Coisa de chinês.

Todo esse mega espetáculo também mostrou que os chineses não ficam devendo nada a Hollywood. O cineasta Zhang Yimou, premiado em Cannes e Berlim, foi quem dirigiu o espetáculo, mostrando que a China dá aula em termos de efeitos especiais. Se cuida Spielberg!

Numa olimpíada tão grandiosa, a qual se aliou a superstição chinesa [abertura a 08/08/2008 às 20:08 minutos], onde se busca bater recordes [público, medalhas, investimento,etc.], espera-se que ao menos uma palavra insistentemente citada na composição do espetáculo tenha sido aprendida e esteja presente durante todo o evento: harmonia.

Ana Patrícia

Um comentário:

Jusemara Antunes Teles disse...

A China está disposta a pagar muito pelo respeito do mundo. Adorei o texto,o Bial que se cuide. hihihi...

Ju