11 agosto, 2008

Dia do estudante - temos o que comemorar?

As estatísticas sobre educação no Brasil nos últimos anos apontam diminuição do analfabetismo no país, aumento de freqüência às escolas de crianças entre 7 e 14 anos, diminuição da repetência, um maior número de universitários, elevação do nível de escolaridade. Investimentos feitos pelos governos municipais, estaduais e federal tem participação nessa mudança, com programas como o bolsa escola, programas de Educação de Jovens e Adultos (EJAs) e etc. Mas será que essas estatísticas realmente refletem a realidade?

Parando para observar uma escola hoje, podemos facilmente perceber a maquiagem que é feita da educação atual no nosso país. Perceber as nuances do que as pesquisas querem dizer é importante para não nos enganarmos.

"Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever", mas parece que o que se conta na pesquisa trata como alfabetizados alguém que sabe apenas escrever seu nome e não sabe ler, se for assim, tudo bem, o analfabetismo no Brasil realmente caiu vertiginosamente. E não é um exagero afirmar isso, já que por estar em sala de aula, vemos isso facilmente, como exemplo, o caso de vários alunos que tive, no 5º/6º ano do fundamental II [!] que nem sequer o próprio nome sabia escrever corretamente, tinha uma caligrafia que mais parecia uma garatuja [garatuja são desenhos malfeitos, com traços soltos e toscos, rabiscos; são as primeiras manifestações de imagens criadas por crianças pequenas]. Ou ainda, no ensino médio sem saber ler! Como era o caso de vários outros alunos que tive. Mas o pior, porém não menos comum, foi ter colegas na faculdade nesse mesmo nível...Como foi que chegaram até lá?

O tão festejado aumento da "freqüência escolar" também é outro ponto que devemos observar. Quantas vezes quem ensina ou trabalha numa escola pública já ouviu um aluno dizer que foi para a escola por causa da merenda? Ok, isso é mais velho que andar pra frente, em nossa época já acontecia. Mas hoje, além da merenda, temos o bolsa escola, que tira as crianças do trabalho para colocar na escola... Mas será que elas estão indo para a escola estudar? Bom, ainda segundo observações pessoais, podemos perceber o desânimo dos alunos, seja por falta de estímulo em sala de aula por parte do professor, seja por desinteresse pessoal do jovem, os passeios pelos corredores da escola, a matança de aula e as inúmeras artimanhas que inventam para não ficarem na sala de aula são extremamente comuns.

Não há aqui julgamento do porquê do aluno não querer assistir aula, mas sim do fato de que as pesquisas mostram o aumento de freqüência como garantia de aumento na qualidade de ensino, o que por si só não garante isso.

Diminuição da repetência escolar...essa é a maior farsa dessas pesquisas. Antigamente [na minha época], se estávamos na 2ª série do falecido "primário" e não sabíamos ler, não iríamos para a 3ª, nem às custas de reza. Hoje, os pontos extras, os conselhos de classe, o cansaço do professor de ver a cara daquele aluno por anos seguidos na mesma turma... premiam a todos com a aprovação. Em escolas particulares [não posso generalizar, mas sabemos que são muitas] se você não aprovar pelo menos 95% dos seus alunos, corre o risco de perder seu emprego, já que a escola não quer perder seus "clientes". Como exemplo disso, infelizmente tive a oportunidade de presenciar um diretor de escola refazer a mesma avaliação de recuperação na qual um aluno já havia sido reprovado, por não saber ler as perguntas... na 6ª série, para que o pai não o tirasse da escola. E numa outra oportunidade, a diretora de uma outra escola aprovar todos os alunos que haviam perdido na recuperação final para que sua escola ganhasse o título de "Escola com melhor aproveitamento do bairro". Parece mentira, mas é verdade.

Ainda quanto a isso, temos que lembrar que as escolas públicas são pressionadas por orgãos responsáveis pela educação para "diminuir" a repetência. Fica por conta de vocês imaginar o que não deve acontecer nessas escolas para que isso aconteça...

O ingresso na faculdade... esse aí hoje em dia está mais fácil do que tomar doce de criança, evidente, já que hoje faculdades se proliferam pelo território quase tão rápido quanto as igrejas evangélicas. E o interessante é que tem mais pobre nas particulares do que nas públicas, já que estas últimas são ocupadas pelos filhos da elite, que são treinados desde o maternal para entrar numa universidade.

Podemos citar um ponto positivo: deu oportunidades para um maior número de pessoas alcançarem o nível superior, mas será que esse nível é realmente "superior"? Basta lembrar dos vários "vestibulandos" que nem sequer sabem ler e passam nas provas... durante, com os inúmeros truques para realizarem os trabalhos que são solicitados pelos professores...até a compra da "monografia"... e quando saem, com um canudo na mão e nada na cabeça. Não é à toa que as notas dadas pelo Ministério da Educação e Cultura [MEC]para muitos cursos sejam tão baixas. Mais uma vez pela observação pessoal: tem gente que fez o curso de direito sem sequer ler um livro de códigos penais. E depois, para dar o golpe de misericórdia, fazem a prova da Ordem dos Advogados do Brasil [OAB] e perdem...sem estar disputando com ninguém.

Além de tudo isso, ainda temos o ensino adestrador para vestibulares e concursos, adestrados para não entenderem o que ocorre ao seu redor, para serem facilmente manipuláveis. Estamos criando robôs. O objetivo principal da educação deveria ser o de formar cidadãos responsáveis, seres que pensam e agem para o bem maior, mas infelizmente hoje criamos mais consumidores e mão-de-obra do que homens e mulheres.

Esses pontos são apenas os mais facilmente perceptíveis num universo de absurdos da nossa atual situação educacional. Para onde estamos indo dessa forma? Será que isso é o futuro do Brasil?

A reflexão foi apenas para que esse dia não seja apenas mais um dia de folga no calendário letivo das escolas.
Ana Patrícia



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