22 julho, 2008

"Ouçam" bem...

Para nossos queridos aluninhos que adooooram ficar [NA HORA DA AULA]de bla,bla,bla no celular e ouvindo mp3, mp4,mp10,mp50,mp100...

Pequenos aparelhos de som cada vez mais potentes colocam em xeque a capacidade de ouvir do jovem
ARQUIMEDES PESSONI
Desde os tempos da vitrolinha Sonata, em que se costumava colocar uma moeda sobre o braço da agulha quando o disco apresentava riscos, os jovens já eram uma brasa e gostavam de ouvir o iêiêiê em alto e bom som. De lá para cá, os aparelhos de som diminuíram em tamanho e aumentaram em potência. Veio o walkman, chegou-se à geração MP3 e, mais recentemente, os MP4, os iPods e também os celulares com função toca-música.
Se de um lado a moçada ganhou em decibéis, quem perde em qualidade é a audição de quem abusa do volume. Pelo menos é o que aponta pesquisa do Deafness Research, organização britânica especializada em problemas auditivos, que indicou que 53,5% dos jovens do Reino Unido entre 16 e 24 anos costumam usar tocadores de MP3 por mais de três horas por dia em volume excessivo. Na França, um a cada quatro adolescentes registra déficit auditivo patológico em função do abuso do som alto.
A perda auditiva no Brasil já ganhou status de problema de saúde pública. Números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes a 2000 dão conta de que 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, cerca de 14,5% da população do País. Desses, 5,7 milhões têm deficiência auditiva.
O otorrinolaringologista Marcos Luiz Antunes, da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, lembra que a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza 65 decibéis como limite tolerável ao ouvido humano. “Mais do que meia hora por dia acima dessa média pode causar prejuízos à audição” — salienta. A título de exemplo, a fala humana, em tom moderado, oscila entre 50 e 60 decibéis, o disparo de uma arma de fogo representa entre 130 e 140 decibéis, o barulho da turbina de avião gira em torno de 120 decibéis, o tráfego pesado de uma grande avenida de São Paulo alcança 80 decibéis e um concerto de rock atinge em média 110 decibéis. “Com certeza a exposição com tanta frequência a som alto, normalmente tocando em frente às caixas acústicas, foi a razão do guitarrista Eric Clapton ter apresentado problemas de audição” — observa o médico Marcos Antunes.
Som ou barulho? — Por definição, som é uma onda física que provoca vibração da cóclea, órgão interno do ouvido em forma de caracol que manda impulsos elétricos para o cérebro. As causas de surdez podem ser por doenças pré-natais (ou seja, antes do nascimento da criança), perinatais (período do nascimento) ou após a criança nascer. No primeiro grupo, as razões podem ser genéticas, infecciosas (causadas principalmente por rubéola, toxoplasmose, herpes simples ou sífilis) ou provocadas por drogas teratogênicas, isto é, que causam defeitos congênitos — a talidomida, por exemplo.
No caso das doenças perinatais, as causas de surdez mais presentes são a prematuridade do bebê, traumas no parto ou a hiperbilirrubinemia (conhecida popularmente como causadora da icterícia). Já entre as causas pós-natais de surdez estão as infecções bacterianas (otite ou meningite), virais (sarampo, caxumba) e traumas, principalmente por acidentes com prejuízo crânio-encefálico. Há ainda a surdez causada por barotrauma, um dos problemas médicos mais frequentes nas viagens de avião, motivado pela pressão no ouvido. Somam-se a esse grupo exposição à radiação, medicamentos tóxicos aos ouvidos (alguns antibióticos, aminoglicosídeos, drogas diuréticas ou consumo excessivo de aspirina), distúrbios metabólicos como diabetes, doenças auto-imunes e exposição excessiva a ruídos.
O consultor comercial Roberto Mazini é um daqueles aficcionados cujos ouvidos estão sempre trabalhando. Seja no serviço ou a caminho da faculdade, seu fiel companheiro é o iPod, que assume ouvir diariamente cerca de quatro horas em volume acima do recomendável. Mesmo antes de adquirir o equipamento, Roberto Mazini já tinha hábito de apreciar música o dia todo no trabalho, para ele uma forma de concentração. “Em alguns dias não é possível estar ligado em tempo integral por causa do número de telefonemas e das reuniões” — observa o consultor, para quem a saúde auditiva parecia bem, antes de usar o aparelho. “Fiz exames antes de adquirir o MP3 e estava tudo OK, mas agora não tenho certeza se continua assim” — ri da situação, embora revele que tem sentido algumas dores de ouvido, principalmente na cartilagem que sustenta o fone. “Nos últimos dias procurei evitar o MP3 e as dores diminuíram” — assume.
O fone de tocadores de MP3, encaixado dentro do ouvido, é mais nocivo que o tipo formado por um arco e duas pontas, aponta estudo da universidade americana de Northwestern. A posição interna dos fones pode garantir aumento de até nove decibéis no som final.
Prejuízos profissionais — O otorrinolaringologista Marcos Antunes alerta que os primeiros sinais de perda auditiva aparecem quando os sons agudos são menos notados. “A tendência é o jovem aumentar o volume cada vez mais e piorar o quadro. Sem dúvida, a continuar assim, a grande maioria que abusa dos aparelhos de som terá perda auditiva com a idade” — garante o médico.

Se prejudicar a saúde não parece importante à juventude no momento, na hora de procurar emprego pode fazer diferença. “Um motorista que não ouve bem certamente será barrado no exame de admissão” — exemplifica Marcos Antunes. Além disso, a presbiacusia, ou seja, a perda de audição progressiva por idade, deixa inúmeras sequelas. Ao não ouvir, ou escutar e não entender, o indivíduo passa por sentimentos de depressão, raiva, isolamento e medo, com tendência a se afastar dos demais simplesmente por não poder participar mais da vida em grupo.

Mas nem tudo está perdido para os jovens e o pecado do som alto é admitido eventualmente. Entretanto, para que ouvir bem seja uma garantia futura, há algumas dicas do otorrinolaringologista que valem ser seguidas: gestantes devem fazer pré-natal adequado e detectar precocemente problemas auditivos nas crianças; a vacinação de mães e crianças contra doenças que podem causar surdez deve estar sempre em dia; proteger-se contra ruídos de alta intensidade; procurar periodicamente um otorrinolaringologista para exames preventivos; usar sempre cintos de segurança para que, em eventuais acidentes de trânsito, os traumas não causem prejuízo maior aos ouvidos; e evitar uso de drogas ou medicamentos sem orientação médica. Ouviram?

FONTE: http://www.livremercado.com.br/Vida%20Capital/2007/Fevereiro/04.htm consultado em julho/2007

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