31 agosto, 2009

O mar não tá pra peixe

O fim do “estoque” marítimo

Estatísticas da pesca predatória apontam para insegurança alimentar e a extinção do modo de sustento de algumas comunidades

Da Revista Sustenta

A humanidade começa a ver o final da linha para o modo de produção atual por conta da exploração excessiva dos recursos naturais. A atividade pesqueira dá o exemplo: de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), 80% dos bancos de pesca mundiais estão completamente explorados e em declínio. Mas a situação é ainda mais grave: se continuarmos no mesmo ritmo, todos os peixes do planeta serão extintos em 2050, segundo concluiu pesquisa da Universidade Dalhousie, do Canadá.

As estatísticas da tendência tão insustentável não escondem consequências graves. Pesquisadores preveem a extinção de espécies marinhas, o empobrecimento das comunidades pesqueiras e a falta de alimento para a população mundial. “Além das questões da alimentação e dos meios de sustento, em janeiro descobriu-se que os oceanos precisam do excremento dos peixes, porque de outro modo são muito ácidos para processar o dióxido de carbono e limitar o aquecimento do planeta”, explicou à agência de notícias IPS Rupert Murray o diretor do filme The end of the line, documentário estreado recentemente na Inglaterra que mostra o impacto da pesca industrial.

Na costa oeste da África, o valor total da pesca ilegal é, de acordo com a ONG britânica Fundação para a Justiça Ambiental, estimado em US$ 1 bilhão por ano. Um dos maiores problemas desse tipo de atividade é a área de atuação das embarcações, nas Zonas de Exclusão Costeira. Isso significa que o local onde a pesca predatória é feita é mantido como um tipo de “reserva marinha”. Além disso, os pescadores ultrapassam as cotas autorizadas para a retirada de peixes do mar, e sua impunidade é garantida por fiscalizações ineficazes.

Do outro lado do Atlântico, o Brasil possui 3,6 milhões de quilômetros quadrados de águas protegidas, mas ainda assim 80% das espécies mais procuradas correm risco de serem extintas por conta da pesca abusiva ou realizada com redes, método menos seletivo e mais agressivo. Em entrevista à Fundação O Boticário, o biólogo Maurício Hostim afirmou que “várias espécies estão criticamente sobreexplotadas e os estoques baixando consideravelmente”. Entre as populações de peixes da costa brasileira de valor comercial que mais diminuem estão a de garoupas, badejos e meros. Para o Hostim, algumas medidas do governo, como o incentivo de aumento da frota de barcos, estimulam a atividade pesqueira e não levam em conta o esgotamento do mar que banha o País. “Estudos mostram que, cada vez mais, há um esforço maior na pesca, mas com um rendimento cada vez menor”, acrescentou.

Ameaça ao sushi
No Japão, a maior preocupação relacionada à pesca, principal atividade econômica do país, está relacionada ao atum-azul, muito apreciado e usado para sushis e sashimis em todo o mundo. Segundo reportagem da revista Veja, nos oceanos Pacífico e Índico o peixe está quase extinto. No Atlântico e no Mar Mediterrâneo, principais locais de pesca da espécie, o estoque diminuiu 10% em relação a meados do século passado. Na costa escandinava, ela já sumiu. E nas fazendas de cultivo da Europa, onde os peixes são colocados em gaiolas para processo de engorda, o estoque foi reduzido em 25% em um ano. Seis delas, na Espanha, encerraram operações por falta de abastecimento.

A preocupação dos japoneses vem de um motivo simples: ao mesmo tempo em que consomem um quarto da quantidade de atum-azul pescada mundialmente, observam seu preço crescer. A diferença do preço do quilo de um ano para o outro pode ser de 30%. No aumento do preço, percebe-se que o produto está menos abundante. Enquanto isso, em restaurantes fast-food o aumento de consumo foi de 33% em relação à década passada. Em supermercados e lojas de conveniência o crescimento foi de 70%. “Sushi sem atum não é sushi”, disse à revista Tadashi Yamagata o vice-presidente do sindicato dos sushiman do Japão. “É como se os Estados Unidos ficassem sem hambúrguer”, compara.

FONTE: http://www.planeta-inteligente.com/


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